SINDPEFAETEC em entrevista ao Jornal EXTRA (16/10)
Falta comida e sobra lixo para todo lado. O cenário de caos fica na Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) de Quintino, a maior da rede. E a crise se estende à maioria das 130 escolas da rede, que atende 300 mil alunos. Na unidade de Imbariê, em Duque de Caxias, para usar a quadra esportiva, na semana passada, os estudantes pegaram em vassouras, baldes e panos. Em Quintino, pais e alunos tentam suprir a falta de material, mas a sujeira deixa evidente que a situação está crítica.
“Por favor, tragam almoço a partir de terça-feira (11/10), pois teremos aula normal. Disponibilizaremos o micro-ondas para o aquecimento”. O lembrete foi colocado no quadro de avisos e assinado pelo diretor da Escola Técnica Estadual Juiz Luiz do Nascimento, da Faetec em Nova Iguaçu.
Com salários atrasados, em alguns casos há mais de cinco meses, funcionários terceirizados não estão conseguindo ir trabalhar. A falta de pessoal tem inviabilizado o funcionamento normal das unidades, onde faltam profissionais de segurança, de limpeza e para preparar as refeições.
Revezamento de turno
A suspensão das refeições levou a unidade de Quintino a fazer revezamento de turnos: os alunos que seriam do integral estudam só de manhã numa semana e, na outra, à tarde. Lá, o clima é de abandono, com lixo espalhado e sem segurança. Sem receber, as equipes de limpeza e de vigilância patrimonial pararam de ir trabalhar. Para não passar fome, a estudante do 2º ano de Produção e Moda, Larissa Oliveira Fernandes, de 19 anos, leva quentinha.
Para alunos do 3º ano, como Pedro Miguel Toledo da Silva, de 18 anos, que cursa Telecomunicações, a principal preocupação é com o Enem. Por conta da greve dos professores de mais de cem dias, o ano letivo só tem previsao de acabar em abril de 2017.
— A escola entrou num estado de calamidade — reclama o jovem, que, para não ficar em desvantagem, entrou num cursinho e reforça os estudos em casa, por conta própria.
Ações trabalhistas
Há cinco meses sem o salário de R$ 1.200, o monitor Ronaldo Fonseca, de 56 anos, morador na Pavuna, só conta com a aposentadoria da mulher, de R$ 1 mil. Até o mês passado ainda recebia R$ 345 do auxílio-alimentação e o vale-transporte. Agora, nem isso.
— Parei de trabalhar semana passada, quando acabou o vale-transporte — disse o terceirizado da ETE Quintino.
Segundo Antônio Carlos da Silva, presidente do Sindicato dos Empregados das Empresas de Conservação e Asseio, são mais de duas mil ações dos terceirizados na Justiça, 700 só da empresa Prol, que rompeu o contrato sem pagar indenizações.
Os efetivados, entre eles professores, recebem com atraso desde janeiro, segundo a presidente do Sindicado dos Profissionais em Educação da Faetec, Gabriela Laurindo. Procurada, a Faetec se limitou a repetir a nota que está em seu site desde o dia 7, na qual diz repudiar o corte da entrega dos gêneros alimentícios, sem aviso prévio, e que o último repasse às empresas foi em agosto. Sobre os terceirizados, informa que aguarda “fluxo de caixa” para quitar as parcelas atrasadas. É a mesma resposta da Secretaria estadual de Fazenda. A Prol disse que já rescindiu o contrato. Na terça-feira, alunos da Faetec planejam protesto em frente à Alerj.