Leia a palestra apresentada pela diretora do Sindpefaetec, Alessandra Abelha, na UERJ.
O Sindpefaetec, representado pela diretora Alessadra Abelha, participou da II Jornada Qualidade de Vida no Ambiente de Trabalho dos Profissionais de Educação, que ocorreu na UERJ no dia 16 de agosto de 2011.
Leia abaixo a apresentação de Alessandra Abelha.
Participação do SINDPEFAETEC na II JORNADA QUALIDADE DE VIDA NO AMBIENTE DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO
Mesa de debates O STRESS DO PROFESSOR – análise do índice de burnout em professores da rede pública do Ensino Fundamental.
UERJ : 16 de agosto de 2011.
Alessandra Abelha de Almeida – Diretora do SINDPEFAETEC
Síndrome de Burnout
( do inglês burn out – queimar por completo)
Burn – queimar Out – externo = EXAUSTÃO
Também chamada de síndrome do esgotamento profissional, comum entre profissionais da educação.
Segundo Maslach e Leiter (1999) e Garcia Montalvo e Garcés de Los Fayos (1996) a Síndrome de Burnout passa por três dimensões:
– Exaustão Emocional – falta de energia, sentimento de esgotamento afetivo.
– Despersonalização – atitudes negativas e insensíveis em relação as pessoas com as quais trabalha, tratando-as como objetos. Estabelecimento de relações interpessoais de forma fria, caracterizando insensibilidade emocional.
– Baixa realização pessoal – auto – avaliação negativa, falta de motivação para o trabalho.
Pesquisas de caráter qualitativo desenvolvidas por Volpi (1994), Mosquera e Stobäus (1996) e Nunes e Teixeira (2000 apontam algumas situações que contribuem com a Síndrome de Burnout:
– Falta de tempo para realizar bem o trabalho (cada vez mais alunos, mais aulas, mais conteúdos fora da área de formação);
– Burocratização do trabalho (planilhas, dados a preencher, controle avaliativo);
– Conflito de papéis: (ora professor, ora pesquisador, ora administrador);
– Exigências acadêmicas (novos curriculuns, avaliações MEC, novas tecnologias)
– Invasão do espaço privado (trabalho em casa, à noite, finais de semana, trabalho que exija concentração, escrever artigos, preparar aula, somente fora do ambiente de trabalho);
– Preocupação da escola com desempenho acadêmico e tecnologia, sem valorizar a qualidade de vida do professor, os valores humanos prescritos da Instituição.
– Segundo a Lei 889/07 – “ Vandalismo, os ataques a professores, as violências entre alunos, a situação precária das escolas, a falta de valorização do profissional da educação, o baixo salário e o não reconhecimento resultam em condições degradantes de labor, faz com que o educador entre para o caminho mais inconveniente o do esgotamento emocional.”
– Na ALERJ- 17/08 aconteceu o veto total- Do ex deputado Alcides Rolim, que institui o programa de assistência médica e psicológica para professores da rede pública com síndrome de Burnout ( causado pela exaustão)
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em seu artigo 67 estabelece que cada sistema garantirá ao professor piso salarial, condições de trabalho, aperfeiçoamento profissional continuado inclusive com licença para afastamento periódico remunerado para esse fim, promoção conforme o título e a habilitação em cursos de extensão ou pós graduação.
No site da Faetec o servidor tem direito de participar de cursos de atualização e demais eventos promovidos ou indicados pela Faetec, visando o desenvolvimento profissional, mas a Faetec não proporciona licença integral para os estudos, o que dificulta, pois a instituição só libera o horário pedagógico (que é um período para elaborar aula, corrigir provas, lançar notas no diário e reunir com sua equipe de trabalho). O SINDPEFAETEC pede Licença Integral para os estudos.
O Estatuto do Funcionário Público em seu artigo 19 (VI) o profissional depois de cada qüinqüênio ininterrupto tem direito a licença prêmio, porém na prática a liberação desse direito não está sendo respeitado, ocorrendo apenas em momentos convenientes à administração da Faetec. Por exemplo, no Estado de Minas Gerais quando o servidor solicita sua licença prêmio, a resposta é imediata. Uma das soluções encontradas é o contrato temporário naquele período. Enquanto os servidores da Faetec a maioria retira a licença prêmio logo após a licença a maternidade. Já aconteceu de profissionais solicitarem a licença prêmio e não conseguirem, pois tinham que respeitar o calendário escolar, porém tiveram que ir ao médico e solicitar sua licença saúde. (Às vezes, o profissional não quer expor a sua doença, para conseguir aquilo que lhe é de direito.
Ao longo dos anos, a falta de políticas públicas provocou o sucateamento das escolas e a desvalorização social do professor refletiu profundamente na queda da auto-estima dos profissionais e da qualidade do ensino.
A maioria dos professores tem jornadas longas, mais de um emprego e a falta de um calendário único no Estado impede o gozo completo das férias por esses profissionais. Onde está a preocupação com o bem-estar dos professores? Quando observamos as condições de trabalho vemos, remuneração inadequada sem data base para os servidores estaduais, baixa perspectiva de promoção na carreira, falta de apoio técnico operacional para atividades, ausência de benefícios (o auxílio transporte que a categoria conseguiu este ano, não atende a todos, mas somente professores com carga horária de 20h. Ao mesmo tempo, vale cultura não existe na instituição, os notebooks foram disponibilizados apenas,para os professores coordenadores de disciplina). Será que existe algum espaço na Instituição para o professor relaxar? Tem um lugar de descanso nos intervalos das aulas? Como é a sala dos professores na sua unidade escolar?
Ao longo dos anos na Faetec conseguimos que acontecesse a Consulta para diretores das escolas da rede, e nesse período os gestores da Faetec acataram o que a comunidade escolar elegeu. Esse processo foi de suma importância, pois a participação dos seus professores, funcionários, alunos e pais tornou o clima escolar mais democrático, longe de representar um perigo institucional, gerou bem-estar, saúde, compromisso, sentido e identidade a participação desta comunidade com os objetivos da Instituição.
No contexto escolar existem determinadas situações que causam sofrimento aos professores como: dificuldade de aprendizagem dos alunos, superlotação das salas de aula, violência na escola e nos arredores, causando um sentimento de vulnerabilidade em relação a sua segurança pessoal.
Uma vez identificadas possíveis fontes de Burnout no âmbito do trabalho, passamos a propor formas de prevenir ou fazer frente a esta Síndrome. Expomos algumas estratégias que privilegiam a saúde e qualidade de vida no contexto escolar:
– Transformar a escola em um contexto saudável, desenvolvendo as modificações necessárias no âmbito das relações, das condições e da organização do trabalho;
– Propiciar o fortalecimento (empowerment) pessoal e coletivo, desenvolvendo capacidades de lidar com o estresse, valorização pessoal e grupal, controle das situações de conflito, modificando o contexto e canalizando necessidades e aspirações (Montero, 2003).
– Desenvolver redes de apoio social, formando grupos de discussão entre professores, oportunizando reflexões entre líderes institucionais e professores, reunindo alunos e pais para apresentação de trabalhos, experiências, chamando aos pais para trocas sobre modelos educativos e formas de lidar com os alunos, chamando aos alunos para participarem de jornadas, criando fóruns permanentes de diálogo e co-responsabilidade educativa.
– Implementar recursos, pessoais e ambientais, que propiciem melhoria na qualidade de vida dos docentes.
De acordo com Maslach e Leitter (1999), uma das principais estratégias para prevenir a síndrome, é a de enfatizar a promoção dos valores humanos no ambiente de trabalho ou,. como nos lembram as conclusões do trabalho de Borges et al (2002), adotar valores mais orientados para a coletividade, em oposição aos valores mais individualistas. Se queremos não somente ‘sobreviver’ no trabalho e sim fazer do trabalho uma fonte de saúde e realização cabe a cada um de nós mas do que chorar e lamentar, iniciar um processo de mudança pessoal e institucional, com propostas construtivas e participativas, ou, se os nossos ambientes são mais fechados e resistentes, administrar a própria saúde e buscar aliados para iniciar um movimento que leve a construção de espaços mais saudáveis no contexto de trabalho.
O SINDPEFAETEC e suas revindicações:
– Data base para os servidores
– Reestruturação do Plano de Cargos e Salários
– Calendário único no Estado
– Permanência de todo ensino fundamental na rede
– Gratificação do Fundeb
– Licença integral para os estudos.
– Licença prêmio quando o profissional quiser retirar.
– Pagamento dos descontos das greves de 2003 e 2006
e abono funcional
– Revisão do Estatuto da Faetec
– Liberação do Ato de Investidura dos concursados de 2002
– Nova chamada dos concursados
-10% do PIB para a Educação Pública
Mas só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso com a educação das crianças e jovens. (Dilma Rousseff, Discurso de posse, 01.01.2011).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Borges, L.O., Argolo, J.C.T., Pereira, A.L.S., Machado, E.A.P., Silva, W.S. (2002). A Síndrome de Burnout e valores organizacionais: Um estudo comparativo em hospitais universitários. Psicologia: Reflexão e crítica, 15 (1), pp.189-200.
Estatuto do Funcionário Público. Decreto Estadual 2479/79.
Garcia Montalvo, C.; Garcés De Los Fayos, E. (1996). Revisión teórica acerca del burnout en entrenadores: aportaciones de un modelo teórico a la comprensión del síndrome en la profesión de entrenador. Paunes de Psicología, (48):83-93.
LDB- Lei de diretrizes e Bases da Educação. Lei 9394 de
20 de dezembro de 1996.
Lei 889/07 vetada Alerj
Maslach, C. & Leiter, M.P. (1999). Trabalho: Fonte de prazer ou desgaste? Guia para vencer o estresse na empresa (M.S. Martins, Trad.). Campinas: Papirus. ((original publicado em 1997).
Montero, M. (2003). Teoria y Práctica de la Psicología Comunitaria: la tensión entre la comunidad y sociedad. Buenos Aires: Piados.
Mosquera, J. & Stobäus, C.D. (1996). O mal-estar na docência: Causas e conseqüências. Educação – Porto Alegre, 31, 139-146.
Moura, E.P.G. (2000). Esgotamento profissional (burnout) ou Sofrimento Psíquico no Trabalho: O caso dos professores da Rede de ensino particular. In Sarriera. J.C. (Org). Psicologia Comunitária – Estudos Atuais. Porto Alegre: Sulina.
Nunes. M.L. & Teixeira, R.P. (2000). Burnout na carreira acadêmica. Educação – Porto Alegre, 41, 147-164.
Volpi, M. (1994). Testemunho de professores sobre sua ação profissional e a responsabilidade social da universidade: docentes da PUCRS pensam sua universidade. Tese de doutorado não-publicada, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.